Histórico

Já faz algum tempo que, a cada início de ano, musicistas renomados ou aspirantes a essa categoria vêm a Curitiba. A cidade se transforma, então, em um grande palco, que se estende por espaços públicos e privados e onde imperam sons melodiosos, arrojados e inebriantes executados com esmero ou ainda um tanto inseguros evidenciando uma convivência singular entre mestres e aprendizes.

Nesse contexto, como não mencionar os famosos Festivais de Música de Curitiba e Cursos Internacionais de Música do Paraná realizados simultaneamente, entre 1960 e 1970? Promovidos pela Sociedade Pró-Música, com o incentivo do poder público e de instituições privadas, os cursos / festivais foram coordenados pelo maestro Roberto Schnorrenberg em oito de suas nove edições. Esses encontros marcaram época na capital, ao reunir musicistas e professores nacionais e estrangeiros em prol do intercâmbio cultural, da aprendizagem e aprimoramento técnico dos alunos que, a cada evento crescia o número surpreendentemente. Os lugares para os cursos e apresentações tiveram que se expandir. Da Escola de Música e Belas Artes e do Instituto de Educação, ocuparam também o Colégio Estadual do Paraná, Teatro Paiol, Teatro Guaíra, igrejas.

Pela sua notoriedade não somente para o Paraná, mas também para o Brasil, os antigos festivais permaneceram inesquecíveis na memória musical curitibana. Assim sendo, em fins de 1982, nas dependências da Fundação Cultural de Curitiba, Lúcia Camargo, então diretora executiva da FCC, em conversa com a cravista Ingrid Seraphim rememoraram aqueles momentos de vanguarda, em Curitiba, e a partir daí, se empenharam em revivê-los na Fundação Cultural contando com o apoio de colaboradores dedicados.?

Desse saudosismo resultou a primeira Oficina de Música de Curitiba que, de 3 a 15 de janeiro de 1983, ocupou as salas do Solar do Barão, espaço da Fundação Cultural que acabara de ser restaurado. Com o objetivo inicial de promover o aperfeiçoamento dos integrantes da Camerata Antiqua, os cursos da Oficina foram também disponibilizados aos estudantes interessados, transformando o aluno em elemento essencial para o sucesso do evento. Já nessa primeira edição, um grupo seleto de docentes de Curitiba e de várias cidades brasileiras participou da Oficina, como Helder Parente, Mara Campos, Maria Alice Brandão, Paulo Bosísio, Sebastião Tapajós, Roberto de Regina e Myrna Herzog. A coordenação didática ficou a cargo de Ingrid Seraphim e a coordenação administrativa coube ao violinista Walter Hoerner.

As edições seguintes serviram para definir a Oficina de Música como um dos principais acontecimentos artísticos da América do Sul. Os cursos aumentaram e além do Solar do Barão atingiram outros espaços da FCC, além de escolas e teatros da cidade. Na Oficina de Música de 1985, ocorreu o primeiro Encontro dos Professores de Piano coordenado pela pianista Henriqueta Garcez Duarte, que persistiu até o começo da década de 2000. De 1997 a 2001, o Memorial de Curitiba sediou o Seminário de Musicologia Latino Americana idealizado pela musicista Elizabeth Prosser, pelo maestro Lutero Rodrigues e pelo musicólogo Paulo Castagna.

A preocupação em incentivar o gosto pela música no público infantil também esteve presente desde as primeiras edições. O método Suzuki foi aplicado na Oficina até 2005, e retornou à sua programação sete anos depois.

A música popular começou a se destacar no evento a partir de 1993. Naquele ano, o carioca Roberto Gnattali coordenou e ministrou aula na primeira grande Oficina de MPB, que aconteceu no Centro Cultural Portão, atual Museu Metropolitano de Arte – MUMA. Tim Rescala, Luiz Otávio Braga, Marcos Leite e Jarbas Cavendish participaram do corpo docente. A partir daí a Oficina de MPB ganhou notoriedade a cada ano e seus cursos foram ampliados. Em vista disso, a Oficina de Música passou a ser dividida em duas fases: música erudita e música popular brasileira.

Com uma trajetória ímpar no cenário musical brasileiro, supervisionada por diretores artísticos renomados e a participação dos conjuntos musicais da Fundação Cultural, a Oficina vem se diversificando para atender um número maior de interessados. Há muito sua relevância transcendeu as salas de aula para atingir praças, parques, terminais de ônibus e Ruas da Cidadania. O circuito off se transformou numa extensão da Oficina, movimenta bares e demais espaços da cidade, e evidencia mais uma singularidade do evento que contribui para a dinâmica cultural e econômica da cidade. Dessa forma, hotéis, restaurantes e o comércio em geral também são beneficiados. Em 2019, a Oficina de Música de Curitiba estará celebrando sua trigésima sexta edição. Um convite para novas manifestações de arte e talento!

Aparecida Vaz da Silva Bahls
Historiadora e Pesquisadora da Casa da Memória / Diretoria do Patrimônio Cultural / Fundação Cultural de Curitiba

*Lúcia Camargo trabalhou como jornalista na assessoria de imprensa dos festivais que ficou a cargo do então Departamento de Cultura Estadual. Ingrid Seraphim lecionou na Escola de Música e Belas Artes do Paraná e foi professora e concertista dos cursos / festivais. Ingrid é fundadora da Camerata Antiqua de Curitiba ao lado do maestro Roberto de Regina.

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